Anfavea fala sobre os impactos do vírus na indústria e o novo comportamento do consumidor

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A inesperada pandemia trouxe novos desafios para a indústria automotiva. Uma das principais mudanças foi a digitalização das relações, com a mudança da forma de produção e de relacionamento com os clientes.

Embora o setor tenha mostrado leve recuperação em maio, a perda durante o período de quarentena foi grande, menos 34,4% em relação ao mesmo período de 2019. Neste momento, o setor discute como deverá se comportar neste “novo mundo” para recuperar o prejuízo causado pelo vírus.

Muitos foram os fatores que fizeram as pessoas desistirem de comprar um carro, mas vale destacar três aspectos: o medo de se contaminar, a incerteza financeira e o desemprego.

Para Ricardo Bacellar, da prestadora de serviços KPMG, é preciso olhar para as condições sociais, econômicas e políticas do País para entender o consumidor e pensar em soluções para o futuro.

“Não dá pra ser assertivo e dizer que o que está acontecendo na China, por exemplo, vai se repetir no Brasil. Lá as pessoas voltaram a comprar carro, mas as condições sociais e econômicas aqui são diferentes e inferiores às desses países que já passaram pelo vírus”, disse Bacellar durante live feita pela Anfavea.

Em relação à compra de carros, o diretor da webmotors, Eduardo Jurcevic, acredita que a aversão ao transporte público por medo da contaminação pode ser uma razão para uma parcela da população optar por um carro. “Com isso, pode crescer a procura por carros de entrada e usados, como aconteceu na China”, explicou.

Além do medo de se contaminar, Gustavo Pena, do Google, destaca outros dois motivos que fizeram os clientes ressignificarem o uso do carro durante a pandemia e que podem afetar a decisão de compra:

“Embora seja uma parcela pequena, algumas pessoas vão seguir uma lógica hedonista, vão querer se presentear depois de terem passado pela quarentena; uma outra parcela pode ser motivada pela mudança de vida, já que com o aumento do trabalho home-office, algumas pessoas se mudaram, foram para o interior dos estados e agora têm uma necessidade de mobilidade que não tinham nas grandes cidades”, explicou Gustavo.

O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, conta que, para uma recuperação rápida, seria ideal que o Governo estimulasse a consumo por meio de condições e concessão de crédito, como a China tem feito. Além disso, acredita que as montadoras e concessionárias vão precisar “entender a mentalidade do consumidor, a capacidade financeira e o nível de confiança para então saber onde deverão ser feitas as mudanças e investimentos”.

Além disso, investir na digitalização dos processos será uma tendência, já que cerca de 80% das vendas de carro começam pela internet, mesmo antes da pandemia. Para Jurcevic, os concessionários podem se reinventar postando vídeos e fotos detalhados para o cliente conhecer o carro que vai comprar, podem adotar sistema de delivery e oferecer mais serviços, como o pós-venda.

“Existem vários processos que podem ser digitalizados para conectar o consumidor com as lojas, fazendo um intermédio e não eliminando as concessionárias, porque elas prestam serviços essenciais”, disse o diretor da webmotors.

Outro impacto importante da pandemia, destacado durante a live, foi o congelamento de alguns investimentos na produção de carros elétricos e autônomos no País.

“O setor sofreu quedas abruptas de receita e isso está afetando de maneira geral a capacidade de investimento. A indústria vai ter que redefinir as prioridades nesse cenário”, disse Luiz Carlos Moraes.

 Kalyne Rannieri, especial para a Autoinforme