Alfonso Arroyo

Ainda na fase imperial do Brasil, os primeiros veículos sobre trilhos se instalavam na zona urbana do Rio de Janeiro, movidos por tração animal. Aos poucos, novas tecnologias foram inovando até que, no início do século 20, com a implementação da rede aérea, bondes já circulavam com grande expansão nas principais cidades, período este que se prolongou até meados de 1968, quando foram retirados de circulação devido aos subsídios oferecidos para a indústria automobilística, que incentivaram o transporte individual.

Ao final desse mesmo século, já com os reflexos de grandes congestionamentos e poluição ambiental, as atenções se voltaram novamente para o transporte coletivo. Soluções de mobilidade foram implementadas, principalmente no setor metro ferroviário, mas alternativas inovadoras que complementem a mobilidade com eficiência e curto prazo se fazem cada vez mais necessárias.

Destaca-se, neste cenário, o VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, como uma solução de mobilidade que vem alcançando sucessivos sucessos de implantação nos mais diversos países. Hoje, quando se fala em cidades inteligentes, não se consegue desvincular a contribuição da mobilidade urbana para tornar a vida dos usuários de transporte público menos estressante, dinamizar deslocamentos e melhorar a qualidade de vida da população.

O VLT compartilha com o que há de mais moderno nos sistemas de transporte, associa recursos e tecnologias que disponibilizam viagens dentro de padrões de horário e qualidade. Wi-Fi, rádio, GPS, redes ópticas e dispositivos inteligentes de localização, interligados a sistemas computacionais de controle, formam uma complexa rede que permite a movimentação do veículo dentro de padrões de regularidade e de atendimento eficiente à demanda de transporte.

Como este modal normalmente interage com o ambiente urbano, é típico o seu compartilhamento com veículos, principalmente em cruzamentos viários. No tocante ao conceito de Cidade Inteligente, o VLT utiliza-se de sistemas semafóricos que lhe oferecem prioridade de passagem, o que permite fluidez e pontualidade em sua movimentação.

Os conceitos aqui apresentados não se restringem aos aspectos tecnológicos, mas na grande contribuição pelo bem-estar do cidadão e o VLT faz sua parte. Leitos gramados, que embelezam e valorizam a região e seu entorno, acessibilidade quanto à comodidade e facilidades para usuários de mobilidade reduzida, design futurista, normalmente adequado às características da cidade que se destina forte incentivo à urbanização, se traduzem em oferecer qualidade de vida para os usuários e pedestres.

O VLT contribui com a revitalização das zonas urbanas por onde circula e incentiva o comércio local e os setores de lazer, com suas janelas panorâmicas e locais de paradas estratégicos. Assim, permite uma interação maior do usuário com seu entorno e colabora com o conceito de shoppings a céu aberto.

É também importante cooperador com o meio ambiente, visto que utiliza energia elétrica para seu deslocamento, colaborando com a não emissão de gases poluentes ao longo de seu trajeto.

Em complemento à nova tendência de utilização de energia limpa e de maiores avanços tecnológicos no setor de mobilidade, as tecnologias de baterias e supercapacitores substituem as redes aéreas por outras opções, e elimina a poluição visual proporcionada pelos postes e catenárias, como pode ser visto no VLT em operação no Rio de Janeiro.

Os sistemas de comunicação permitem que usuários possam usufruir das mais novas tecnologias em dados, voz e imagem interna aos veículos, e os mantêm conectados às redes da Internet no interior do veículo e nas plataformas de embarque.

As implantações de VLT no Rio de Janeiro e na Baixada Santista, em São Paulo, demonstram a viabilidade desse meio de transporte no Brasil. Espera-se que a experiência vivida com esta solução traga mais oportunidades e melhorias a inúmeras cidades brasileiras, onde o problema de transporte público já é presente e agravante.

Cabe aos gestores do setor de transporte avaliarem com bastante atenção as oportunidades de integrar suas cidades a esses novos conceitos, de oferecer bem-estar a seus cidadãos e visualizar um futuro promissor que marcará uma geração que não mais consegue se deslocar sem que a tecnologia a acompanhe.

(*)Alfonso Arroyo é engenheiro e consultor em tecnologia para Veículos Leves sobre Trilhos