By Amyr Klink

Navegador embarca nesse domingo com a equipe da viagem Pro Outro lado da América, a bordo do Honda WR-V e da scooter X-ADV

 “Não tem viagem mais fácil ou mais difícil. Toda viagem exige cuidado e planejamento. Você pode viajar de São Paulo para Guarulhos e ter um problema no caminho se não tomar cuidado, se não se planejar, se não seguir as regras de trânsito. Então, é preciso ficar atento a cuidados básicos que todo motorista deve ter. Numa rodovia como a Castello Branco, na saída da nossa viagem, ou numa estrada completamente erma, entre o salar de Uyuni e o deserto do Atacama, os cuidados são os mesmos: muita atenção na direção, respeito às normas de trânsito e à segurança”.

A recomendação é de Amyr Klink, navegador que dispensa apresentações, mas que, aos que não o conhecem, é protagonista de proezas como remar sozinho pelo Atlântico sul entre a África e o Brasil ou ainda fazer a circunavegação polar do planeta. Amyr e Joel Leite, diretor da AutoInforme, estão prontos para uma nova expedição. É a segunda do projeto Por Terra e Por Mar, onde a dupla busca as aventuras por meio dos dois modais que dominam: o barco e o carro. A primeira foi a expedição Pra lá do Fim do Mundo, no ano passado, e agora a proposta é cruzar a América do Sul, do Atlântico ao Pacífico, passando por quatro países – Brasil, Bolívia, Chile e Peru – mais uma vez com o Honda WR-V e com dois scooters X-ADV, na expedição Pro Outro Lado da América.

Serão 17 dias por mais de sete mil quilômetros, com largada de Paraty, no Rio, neste domingo (28) e visita aos pontos mais cênicos do continente, até o litoral peruano.

Para uma viagem como essa, Amyr diz ser importante ter cuidado com a alimentação e destaca os cuidados que se deve tomar em relação às altitudes a serem enfrentadas nos Andes – por vários dias, no altiplano boliviano, a jornada vai acelerar acima dos quatro mil metros.

“A recomendação é fazer uma alimentação leve à noite, acordar cedo e colocar logo o carro na estrada. Eu acho que o cuidado mais importante vai ser quando a gente entrar lá na região de San Pedro de Atacama, por causa da grande altitude. Do nada, a pessoa pode ser atingida pelo mal de puna, um mal de altitude. Todos nós vamos sentir um pouco: a pessoa acha que está tudo tranquilo e de repente tem um mal-estar. É preciso tomar certos cuidados para amenizar o efeito da altitude, como não se movimentar demais e se adaptar à altitude aos poucos.

O cardiologista Edmar Santos, diretor da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, também deixa uma dica para a equipe enfrentar a altitude:

“O ideal é subir devagar, em velocidade reduzida, com paradas, para se adaptar de forma gradativa à redução de oxigênio, essa limitação que a natureza impõe. Quanto mais lenta for a subida, melhor.”

A equipe de produção da viagem Pro Outro Lado da América, coordenada pelos jornalistas Diego Castellari e Henrique Skujis, se debruçou por vários meses na elaboração do roteiro, que foi sendo alterado na medida das descobertas de lugares especiais nos quatro países a serem visitados. O resultado encantou Amyr.

“Depois da viagem Pra lá do Fim do Mundo, a gente não podia achar um roteiro mais interessante do que esse. Vamos sair de Paraty, subir a Mantiqueira, cruzar o Pantanal, conhecer o salar de Uyuni, descer para o Atacama e subir até Lima no Peru. É uma viagem que qualquer pessoa pode fazer com o carro que tem na garagem, sem precisar nenhuma adaptação, bastando um carro bom e com a manutenção em dia”, disse o navegador.

De fato, nenhuma alteração foi feita nos Honda WR-V para a expedição, assim como nas scooters. Da mesma forma do que aconteceu na viagem de 2018, apenas trocamos o estepe original do WR-V, mais fino, por pneus normais.

“Com um pouquinho de planejamento, de organização, qualquer um faz uma viagem como essa, bastando ter um carro bom, de confiança e tomar alguns pequenos cuidados, que a gente vai mostrar ao longo da viagem”, diz Amyr.

Fizemos algumas perguntas para Amyr Klink sobre a expedição Pro Outro Lado da América.

 

O que é preciso de um carro para uma aventura desse tipo?

Amyr Klink: Em uma viagem como essas, que chega a sete, oito mil quilômetros, eu não vejo o carro como um veículo, mas como uma máquina de mobilidade, que a gente deve conhecer bem e deve tratar com muito zelo. É preciso ter o carro em perfeitas condições de manutenção. Um carro que a gente conheça e que trate com respeito, porque vamos enfrentar muitas situações difíceis, estradas de terra, areia, sal, neve e gelo.

E como evitar o cansaço em viagens como essa.

Amyr: Quando a gente viaja sozinho num veleiro, você tem uma dieta de sono muito árdua, onde não dá para dormir mais que 50 minutos direto, às vezes 30 minutos apenas, depende das condições de trânsito, de navios, de gelo, mal tempo, essas coisas. Nas viagens de carro, eu procuro não andar rápido demais, procuro andar no máximo no limite, porque assim você cansa menos, dá menos estresse, que causa fadiga. E é importante dormir bem, porque vamos pegar a estrada bem cedo, com o dia nascendo. Também é preciso tomar cuidado com a natureza, com os animais que cortam a estrada: por volta das seis horas da tarde, a gente começa a procurar um lugar pra dormir, e eu gosto de dormir cedo. A gente tem que dormir muito bem, ter uma alimentação leve, não exagerar em nada. Aliás, pode exagerar no líquido. Nas altas altitudes a pessoa desidrata e não tem sede. Então tem que forçar tomar água. Outra coisa importante para manter a disposição numa pegada de longa distância é fazer paradas frequentes, a cada 120 ou 150 quilômetros.

 

Você tem experiência com alimentação, passou cem dias remando no Atlântico preparando sua própria comida, que levou desidratada…

Amyr: É, mas na estrada a gente não vai poder colocar isso em prática. Eu acho que é importante são as paradas. Mesmo que você não esteja cansado, deve fazer uma parada, esticar as pernas, tomar um café.

 

É preciso algum preparo físico especial para uma viagem dessa?

Amyr: Não é preciso fazer, mas é legal ter uma boa condição física, estar saudável. Eu viajei com pessoas de vários tipos, gente muito jovem, minhas filhas, a Marina [esposa], um senhor de 70 anos. A idade não é o problema e nem é preciso um preparo físico especial, mas apenas ter uma boa condição física.

 

O que nós podemos fazer para realizar uma viagem sustentável, que é a nossa proposta?

Amyr: Não jogar nada na estrada, trazer o lixo de volta para casa. Certa vez uma menina que viajou com a gente falou: onde eu posso jogar o lixo? O guia respondeu: você vai levar o lixo para o seu país, de onde você trouxe, porque o próximo depósito de lixo está a 600 quilômetros daqui. Outra vez caiu o drone de um pessoal que estava fazendo um documentário na Patagônia e o pessoal reclamava: “Ah, que pena! Perdemos três mil dólares!” O guia, descendente de índios, falou: “Eu não estou preocupado com seus três mil dólares e nem com as imagens que você perdeu… Eu estou preocupado com a bateria de íon-lítio que você largou aqui e vai ficar um século contaminando a nossa região. Vamos achar esse drone!”

A consciência ambiental do pessoal que vive junto à natureza é natural, é autêntica. As pessoas têm consciência e são exigentes.

A expedição Pro Outro Lado da América vai fazer a compensação ambiental das emissões de carbono dos carros da viagem, com a contração da Programa Amigos da Floresta, responsável por plantar mudas de árvores da Mata Atlântica em área de recomposição florestal.