Celso Morassi saiu do estúdio e fez uma experiência tátil em 3D para compartilhar obras de arte com deficientes visuais

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Você imaginou um cego numa exposição de quadros? Parece uma brincadeira de mau gosto, mas aqui na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, é um encantador projeto de acessibilidade para deficientes visuais, que têm a oportunidade de “enxergar” as obras pela arte de um designer de automóveis.

Celso Morassi, que atua no Centro de Design da FCA em Betim, deixou por um momento os carros e se debruçou na tarefa de transformar um quadro numa obra em que deficientes visuais possam compartilhar.

“Desenhar um quadro em 3D é pura inspiração, é liberdade total de expressão”, disse o desenhista, que embora não quisesse comparar com o trabalho desenvolvido no estúdio de design da FCA, encontrou uma semelhança entre os dois trabalhos:

“Para fazer o desenho de um carro é preciso seguir normas rigorosas, técnicas definidas, você fica muito limitado, mas existe certa semelhança entre os dois trabalhos: o design do carro faz o desenho em cima da esquete e no caso dos quadros fiz o trabalho em cima de uma “esquete” produzida há 500 anos”.
Além disso, Celso considerou relevante o trabalho porque “fazer o que é diferente traz um ganho, sai da rotina, aumenta nosso potencial criativo”.

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O tema da exposição é São Francisco de Assis, com um acervo composto por 20 obras pré-renascentistas, renascentistas e barrocas de pintores italianos.

Clarita Gonzaga é coordenadora do programa educativo da Casa que, junto com Celso Morassi, designer de carros do grupo FCA, selecionou três pinturas e fez uma releitura 3D que dá a percepção tátil das obras.

Clarita disse que “a intenção na construção dessas peças era tornar tátil os conceitos chave da pintura. Não é só o tema de São Francisco que está materializado, tem questões relativas à composição e à perspectiva, questões básicas da pintura”.

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“Em cada obra destacamos os contornos mais importantes, levamos para um software específico e fizemos em 3D. Passamos o desenho virtual pra uma placa rígida de resina, através de um equipamento que esculpiu a placa com o formato das obras”, explicou Celso Morassi.

A exposição

Antes de “ver” as obras 3D, os deficientes visuais passam pela exposição de telas ouvindo um áudio que descreve todo o local e as pinturas em detalhes, acompanhados de monitores. Depois, vão para a exposição tátil onde experimentam as percepções sugeridas por Clarita, de composição e perspectiva em três releituras: São Francisco de Assis e quatro flagelantes (1499), São Francisco recebe os estigmas (1570) e São Francisco de Assis, Santo Antônio de Pádua e São Boaventura de Bagnoregio (século 17).

No primeiro contato, o professor de história, Flávio Oliveira, que é deficiente visual, conta que não dá pra saber o que são as formas. “A peça é agradável ao tato, mas precisa de um mediador porque a gente demora um pouco pra entender. Se ninguém me explicar eu não consigo saber o que é”, disse.

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Nívea de Paula, uma senhora de 58 anos também deficiente visual, contou que já foi em outros museus, mas nunca teve uma experiência como essa. “Eu gostei de conhecer a história de São Francisco, dos pintores. Fiquei muito feliz, vim nessa exposição e quero ir a outras, foi muito importante pra mim”.
Além da Nívea, a sua colega Siman Silva, de 51 anos, também se impressionou com as obras e contou que conseguiu visualizar as imagens através do tato e da experiência auditiva.

As obras foram trazidas da Itália e estarão expostas até o dia 21 de outubro, depois vão para o Rio de Janeiro com a mesma proposta de acessibilidade.

Kalyne Rannieri