Do nível do mar aos 2 mil metros de altitude

 

Dia 1

Trecho: Paraty – Cunha – Estrada das Pedrinhas – Serra da Mantiqueira – Campos do Jordão

Distância: 176 km

Piso: asfalto, terra e muita pedra

 Estrada das Pedrinhas rouba o protagonismo da Paraty-Cunha no primeiro dia da expedição Pro Outro Lado da América

 

Amyr e o Paratii se misturam. São um só. Com a simplicidade de quem prepara um café, o navegador solta as amarras do barco e sai flutuando pelabaía da cidade que batiza a embarcação. A bordo, seguem também o jornalista Joel Leite, diretor do portal ECOInforme, e Flavia Vittorino, viajante com os dois pés, o corpo e a alma no mundo da aventura. O passeio na proa do barco com o qual Amyr circunavegou a Antártica e lá invernou por sete meses serve como uma espécie de abertura da expedição Pro Outro Lado da América. Amyr, Joel e Fláviacruzarãoo continente de leste a oeste no comando de três WR-V, o SUV compacto da Honda. Serão quase oito mil quilômetros por terra entre os oceanos Atlântico e Pacífico.

Enquanto o Paratii balançava calmamente no mar calmo na manhã deste domingo, dia 28 de julho e 2019, Amyr largou o timão por alguns segundos, deitou-se –barriga para baixo –, esticou a mão em direção ao mar com um galão e recolheu 1,5 litro de água. Quer levar o líquido até o litoral peruano para, simbolicamente, unir os dois continentes.

Depois de desembarcar da lendária embarcação na marina do Engenho, o trio seguiu para assumir o comando dos WR-V. Ali, os esperavam Marcelo Leite e LíberaCostabeber, dois pilotos que terão a divertida missão de participar da expedição sobre duas X-ADV, a scooter da Honda, que, assim como o WR-V, tem tudo para fazer bonito no trânsito urbano, na estrada e na terra – essas capacidades, diga-se, serão colocadas à prova nessa jornada interoceânica. Uma palhinha sobre Marcelo – já rodou mais de 80 países sobre duas rodas – e sobre Líbera – tem inúmeras provas na bagagem, inclusive a participação no rali dos Sertões 2018.

Era para ser um dia leve, tendo a subida da exuberante estrada Paraty-Cunha como picos de prazer, dificuldade e beleza. Mas Amyr é macaco velho naquele pedaço. Pros lados de Guaratinguetá, virou para estibordo e de um quilômetro para outro, o asfalto impecável que dava vida mansa aos pneus sumiu e deu lugar a um caminho de terra em condições pós-guerra. Aqui, essa estrada é conhecida como estrada das Pedrinhas, quase uma tiração de sarro com os motoristas que topam encarar suas curvas fechadas, seu piso esburacado e suas valetas forradas de pedras de todos os tamanhos.

A suspensão do WR-V, que até então apenas trabalhava macia no asfalto, precisou mostrar valentia para superar a novidade inesperada.Os amortecedores com batentes hidráulicos na dianteira e reforçados na traseira trabalharam duro. Fizeramjus ao nome e amorteceram a pancadaria que vinha de baixo. “Ajudou muito na subida a boa altura do WR-V em relação ao solo e o torque do motor”, disse Joel, feliz da vida com o primeiro dia da jornada.

Em meio a veículos com tração 4×4, cavalos e peregrinos que caminham pela estrada para chegar à cidade de Aparecida, o SUV da Hondanem parecia um 4×2. Sentiu-se em casa. Vindo do nível do mar de Paraty, contornou com galhardia as curvas da serra da Mantiqueira e voou aos 1.971 metros de altitude com uma senhora elegância, apesar de chegar ao cume pintado de bege pela terra. As X-ADV também deram o que falar. “Ela se transformou”, disse Marcelo. “De uma scooter macia e divertida para rodar na estrada para uma trail capaz de enfrentar uma subida dura como essa”, contou o motociclista, tão coberto de pó quanto a moto.

A descida rumo a Campos do Jordão, também sinuosa, continuou exigindo da suspensão. E do freio. Em trechos mais íngremes, após sugestão de Joel, optou-se por colocar o câmbio do WR-V na posição L, de Low, para usar o freio-motor e poupar as pastilhas. Bem mais previsível do que essa aventura de última hora era o trânsito a ser enfrentado no fim de tarde de domingo de férias de inverno na chegada a Campos. Tivemos que cruzar parte da cidade para fugir da badalação e novamente voltar à estrada e chegar ao pouso da primeira noite da expedição, o hotel Botanique. Amanhã, até Amyr em contrário, o dia será puro asfalto, para cruzar o estado de São Paulo e pernoitar em Presidente Epitácio, quase no Mato Grosso do Sul.