Trajeto: San Pedro de Atacama – El Tatio – Caspana – San Pedro de Atacama

Terreno: asfalto, terra e pedra

Temperatura: 6°C a 17°C

Altitude: 2.408 a 4.333 metros

No dia de maior altitude da viagem, rodamos pela exuberante B-245, fizemos piquenique no El Tatio vazio e conhecemos a misteriosa Caspana

Amyr Klink não fazia questão de ir aos gêiseres del Tatio. “Sempre lotado, sem graça, muita gente.” Flavia Vitorino, que também já havia estado lá, disse não se importar em pular uma das atrações mais procuradas pelos forasteiros que desembarcam no Atacama. Mas quando conversamos com o chefe dos guias do hotel Tierra para traçar nosso trajeto e pedimos estradas e destinos que, além de lindos, não estivessem cheios de turistas, a dica foi pegar a B-245 até os gêiseres e retornar por uma estrada vicinal.

Saímos por volta das 9h do hotel. Passamos no posto para abastecer os WR-V e as X-ADV. Apesar das estradas sinuosas, com muita subida e das elevadas altitudes enfrentadas, o SUV da Honda não tem tido muita sede: na média, os três carros, fizeram 15 km/l, um baita número. Com os tanques cheios, seguimos para o El Tatio. Tanque cheio, para-brisas limpos, seguimos para a B-245.

A estrada passa pelo minúsculo vilarejo de Machuca, pelo vulcão Putana, por montanhas nevadas, por pequenos rios meio congelados e ladeados por arbustos verdes-claros, por manadas de lhamas e vicunhas. Tudo com curvas gostosas nas quais a X-ADV e os WR-V se divertem. A suspensão alivia os trancos e dão uma senhora estabilidade. A bordo, ar-condicionado digital marca 20°C e ignora o frio de 9°C do lado de fora.

Com tamanha beleza da paisagem, o El Tatio, mesmo antes de entrar em cena, parece que vai virar coadjuvante. A situação dele – do gêiser – ficou ainda mais complicada quando, depois de voltarmos à altitude além dos 4.300 metros, chegamos na cancela e não havia ninguém para nos receber, além de três raposas lindas. O gêiser del Tatio estava fechado. Mas ao mesmo tempo estava à disposição. De longe, era possível ver as colunas de fumaça. Era só entrar. Ou não.

A dúvida terminou quando dois trabalhadores da empresa de conservação da estrada chegaram em uma picape. “Todos foram para a cidade fazer exames médicos por causa da altitude”, explicaram. E garantiram que era só entrar e se divertir. Os gêiseres del Tatio, uma das atrações mais movimentadas do pedaço, sem absolutamente ninguém, nem os funcionários. Apenas os doze integrantes da jornada Pro Outro Lado da América. Uma caminhada nos levou diante de uma das enormes poças de água quente, com temperaturas na casa dos 80 °C, borbulhando, espirrando e soltando uma coluna de fumaça com cheiro de ovo.

Por falar em ovo, Amyr saca de sua inseparável sacola marrom um pote de alumínio onde estão dois ovos pré-cozidos. Confere a temperatura da água com a mão e mergulha o pote. Espera meio minuto e retira o almoço. Com uma faca Opinel, corta os ovos em rodelas, coloca sobre um pão de azeitona e oferece. Comemos também os sanduíches preparados sob medida pelo Tierra Atacama.

A fumaça denuncia o vento, mas o frio está tranquilo. A ponto de Amyr, o editor Fabio Prado, o cinegrafista Ricardo Gizi, a produtora Marina Lima e eu nos lançarmos em uma piscina natural cuja água brota de dois pequenos gêiseres. Experiência de primeira, apesar do frio fora do normal sentido na hora de deixar a piscina.

De volta ao WR-V, não retornamos direto para San Pedro. Seguimos pela B-245 até Caspana. “É a estrada mais bonita que já estive na minha vida”, crava o fotógrafo Erico Hiller. Caspana é um vilarejo minúsculo encravado em um vale apertado. Parece ter parado em algum momento do passado. Tem um pequeno riacho ladeado por um jardim de plantas verdes e douradas e por casas de barro. Uma ponte de pedra, um museu de arqueologia fechado, um parquinho pequeno e bem conservado. Um outro habitante, indígena, circula pela rua de terra. Deu vontade de ficar para ver como a vida passa na misteriosa Caspana.

Mas o sol baixa rápido no inverno chileno. E temos 110 quilômetros de volta até San Pedro, pela mesma e inesquecível B-245. O céu fica lindo depois que o sol se vai. E a escuridão rodeia o WR-V. A beleza da estrada desaparece. Agora é ligar o pen-drive com as músicas selecionadas, ajustar a temperatura e engatar uma conversa até o Tierra Atacama. Viajar de carro é bom demais.

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Fotos: Érico Hiller