Diário de Bordo – 8º dia from Portal ECOinforme on Vimeo.

Ruta 9. Anote essa estrada na sua lista. Ela desfila por 210 quilômetros em longas retas e poucas curvas no topo sul do vale do rio Santa Cruz. É de rípio, aquele cascalho típico da Patagônia, que deixa tudo mais bonito e selvagem. Vai do leste ao oeste da Argentina. Saímos de Comandante Luis Piedra Buena às 8h e aceleramos pela 9 com a ideia de cruzar a fronteira para o Chile. Mas um espetáculo da natureza mudou o rumo da expedição.

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Domingo passado, o arco de gelo do glaciar Perito Moreno rompeu. É provável que ninguém fora da Argentina tenha recebido tal notícia. Mas aqui se trata de um evento destacado nas manchetes dos jornais, nos programas de televisão e nas mesas de bar. Acontece bem de vez em quando. Desde a virada do século, foi a sexta vez que o bloco de gelo despencou. Amyr sugeriu uma visita ao glaciar, o que colocou a beleza da Ruta 9 no nosso caminho. Vale dizer que a geleira já estava no nosso programa, mas o próprio navegador pediu que a visita fosse cancelada pelo fato de se tratar de um local demasiado turístico.

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E lá fomos nós pela estrada de rípio. Requer atenção. O carro tende a dançar sobre o cascalho. O controle de tração do Honda HR-V segura a onda com facilidade. O Honda WR-V, com suspensão robusta, também vai numa boa. É recomendável manter uma distância de 100 metros para o carro da frente, sob o risco de receber uma saraivada de pedras na lataria e no para-brisa. Fique de olho também na fauna que cisma em atravessar na frente dos carros. Lebres, raposas, roedores e guanacos, donos do pedaço, surgem sem cerimônia. Um desafio para o motorista.

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Um guanaco, bicho elegante e esquisito da família dos camelos, deu o ar da graça de um segundo para o outro diante do HR-V de Amyr. “Pisei forte no freio. Deu pra sentir a atuação do ABS”, disse o navegador. Joel, de WR-V, vinha logo atrás e também cravou o pé no pedal de freio. Foi o momento mais tenso da expedição. “Pelo rádio, Amyr soltou: “Estou com o coração na boca”. Antes de seguir para o glaciar Perito Moreno, Joel fez questão de provar o cordeiro patagônico. É uma das delicias da gastronomia da região. “Tem um sabor especial porque o animal se alimenta de uma fruta chamada calafate. No preparo utiliza-se apenas o sal”, explicou o jornalista, que também provou tripa e língua de carneiro.

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Seguimos para o glaciar Perito Moreno. No caminho, passamos por ruas alagadas em El Calafate, consequência da queda do bloco de gelo que fez subir o nível do lago que banha a cidade. A estrada para o glaciar é espetacular. Uma cadeia de montanhas nevadas aparece para emoldurar em branco a vegetação ainda rasteira que ganha tons dourados. Não dá nem vontade de que ele acabe. Mas é preciso seguir. A entrada no Parque Nacional los Glaciares custa 500 pesos por pessoa, o equivalente a 25 dólares.

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O guarda-parque que nos recebe conta que em média duas mil pessoas visitam o glaciar por dia. Naquele momento, havia pouco mais de mil, mas que nos dias que antecederam o desabamento, 5 mil curiosos davam as caras a cada dia a espera do fenômeno. “O Perito Moreno lembra muito a Antártica. Só falta tirar essa multidão e as passarelas”, brincou Amyr. O paredão que fica diante do público têm em média 70 metros de altura. O glaciar é gigante: 254 quilômetros quadrados, maior do que a cidade de Buenos Aires. Além de embasbacar o viajante e ajudar os cofres do governo, o Perito Moreno carrega a responsabilidade de ser a terceira maior reserva de água doce do planeta. E mais: glaciares refletem a luz solar e ajudam a regular o clima na Terra.

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Antes de o sol se pôr, seguimos viagem rumo sul pela icônica Ruta 40. Pegamos um desvio por uma estrada de rípio para cortar caminho. Economizamos uma hora, o suficiente para chegar a Rio Turbio e assistir, em um boteco comendo empanada de carne, ao segundo tempo de Boca X River, final da Recopa Argentina. Deu River, 2 a 0. A propósito, Amyr não gosta de futebol, mas é fascinado pelo clima que envolve o esporte. Puxando a sardinha para o seu lado, concluiu: a maioria dos times de futebol nasceu de clubes de remo.

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