Sopa de cachorro, cobra aperitivo, escorpião frito, omelete de bicho-da-seda, morcego à caçarola. É verdade que se come essas coisas na China? É tão verdade quanto se come cérebro de boi, buchada de bode e farofa de formiga no Brasil. Quer dizer: se come, sim, mas são iguarias mais folclóricas do que integrantes da dieta convencional chinesa.

Há uma feira com centenas de barraquinhas em Pequim onde se experimenta inúmeras variedades de frutos do mar, do rio e da terra, bichos estranhos, espetinhos de centopéia, escorpião, conchas de tudo que é tipo… Mas tudo isso está longe do dia a dia da centenária culinária chinesa, rica e sofisticada. Sempre que posso, provo essas comidas estranhas. Já comi escorpião frito: o bicho vem prezo num espeto de bambu, esperneando; coloca-se o espeto no óleo quente e está pronto em alguns segundos. O sabor é parecido com o de camarão. O escorpião é um petisco apreciado pela maioria dos asiáticos.

Cachorro eu não comi, mas vi gente comprando-os, vivos, no imenso mercadão a céu aberto na cidade de Cantão, assim como cobras, baratas e outros insetos. Desta última vez provei em Xangai o bicho da seda, numa visita a uma fábrica de produtos de seda que mantém a produção na própria loja e coloca à provação dos visitantes os bichos retirados do casulo. Sem tempero, tem um sabor insosso. 

A grande diferença da cozinha chinesa em relação à ocidental é que nunca você escolhe um prato, mas dezenas deles.

Na recente visita à China pedimos um prato tradicional, o pato laqueado, mas ele foi apenas uma das vinte ou trinta opções servidas na enorme mesa redonda onde nos acomodamos em 14 pessoas: os pratos vão rodando e as pessoas se servindo. A maioria é indistinguível. Ou porque não dá para reconhecer o conteúdo ou porque o sabor é inusitado, excêntrico, surpreendente: quase não se faz distinção entre salgado e doce, substâncias que podem estar misturadas ou servidas indistintamente, ao contrário do ocidente, onde o doce, via de regra, se restringe à sobremesa: misteriosos frutos do mar, estranhos tipos de algas, um conteúdo borrachudo, outro gelatinoso, outro gosmento, mas todos muito bem temperados e quase sempre apimentados. E também pratos mais afeitos ao sabor ocidental, mas sempre com um tempero agridoce apimentado: abóbora, batata doce, legumes variados, preparados de forma diferente dos costumes ocidentais. Tudo feito com muito requinte. Nos bufês dos hotéis você pode optar pela cozinha internacional e frutas tradicionais, além das pitaias e variedades de lichia. O restaurante do hotel Renaissance Putuo em Xangai, serve um verdadeiro banquete tanto no café da manhã quanto no almoço e jantar. Entre pães, frutas, salgados e doces, são mais de cem itens (veja vídeo).

É comum você encontrar pessoas mastigando uma asinha ou um pé de frango na rua, caminhando para o trabalho, ou no transporte coletivo. Há uma infinidade de produtos desidratados ou embalados a vácuo que são encontrados em delicatesses e consumidos a qualquer hora: frutas, ovos de mil anos, algas, lula, pé de porco, filezinhos de peixe, bucho.

O ovo de mil anos é uma das iguarias mais estranhas para os acidentais, uma tradição secular chinesa que tinha o propósito de preservar ovos de pato e galinha usando argila, cinzas, cal e amido.

O ovo de mil anos tem uma cor escura; a clara fica com uma tonalidade esverdeada, translúcida e de consistência gelatinosa. A gema fica com uma cor escura, esfarelante, de cheiro e sabor fortes devido à presença de sulfeto de hidrogênio e amônia.

Atualmente o ovo de mil anos é vendido em qualquer mercado ou quiosque nas cidades chinesas. Eu comprei num quiosque na estação ferroviária de Xangai, onde tomamos o trem bala para Wuhu, na visita à fábrica da Chery.

Veja um breve retrato da visita ao país da gigante Chery