Falta de segurança é culpa da má formação e da falta de fiscalização: 20% dos acidentados não têm carteira e motoboy representa apenas 8% das ocorrências

A formação dos motociclistas brasileiros melhorou ou piorou nos últimos 40 anos? Segundo o profissional e técnico de segurança do trânsito especializado em motocicletas Wilson Yassuda, 62 anos, o grande problema não está situado no perfil dos motociclistas, sejam os da velha guarda, que pilotam há mais de 20 anos, sejam os que formam a avalanche de novatos que invadiu as ruas e estradas brasileiras nas últimas décadas. O problema, segundo Yassuda, está nas diferenças na formação.

Yassuda trabalhou durante mais de 20 anos na Moto Honda da Amazônia, gerenciando os cursos de pilotagem com segurança daquela montadora, e depois na área de competições da Honda Racing. Atualmente, ele é o coordenador de segurança viária da Abraciclo, entidade que reúne todas as montadoras de motocicletas nacionais.

Ele dá sua opinião sobre o tema: “A legislação sobre o trânsito permite que cada região ou cidade do País tenha sua interpretação particular sobre o assunto”. E isso, conclui, resulta na formação de motociclistas, motoristas e pedestres com diferentes níveis de formação e de consciência sobre segurança no trânsito.

“O sistema em si é heterogêneo”, ressalta. ”Não há uma padronização rígida e uniforme sobre as condutas de regras de segurança no trânsito”. Segundo Yassuda, o que falta é o desenho de um croqui mais elaborado e de orientação, para que o motociclista de uma cidadezinha lá do interior do Nordeste pilote sua moto e faça os exames de habilitação com a mesma noção de prática e de responsabilidade que o motociclista de uma cidade grande.

Segundo ele, várias outras situações também precisam ser modificadas e aprimoradas – inclusive no que diz respeito a outros tipos de veículos e aos pedestres. “Recentemente, a Abraciclo fez uma pesquisa junto ao Hospital das Clínicas, de São Paulo, com 400 motociclistas envolvidos em acidentes. O resultado foi surpreendente: 20% deles não eram sequer habilitados! Isso denota que a fiscalização também é falha!”, conclui.

Yassuda revela ainda que componentes como álcool e drogas também estavam presentes na maioria dos acidentados. Ele aproveita e elogia os motoqueiros profissionais, como os motoboys e outros: apenas 8% deles estavam envolvidos na massa de acidentes pesquisados. A maioria dos acidentados – ou 92% — era formada por motociclistas com habilitação recente ou simplesmente sem habilitação.

Segundo o técnico, a solução do problema motos X acidentes passa por um conjunto de medidas que devem ser tomadas pelo governo, além de campanhas constantes de reeducação e avaliação de todos os co-participantes do sistema viário – de motoristas de caminhão a pedestres, passando pelos motoristas.

O técnico cita uma campanha que deu certo – a de se respeitar a faixa de pedestres. “Essas campanhas de educação, como a de se respeitar as faixas, deveriam ser feitas também com os outros participantes do transito”, diz ele, citando desde motoristas de pequenos veículos de transportes a motoristas de ônibus.

Para Yassuda, o problema como um todo deverá demorar um certo período de tempo para ser solucionado. “A Abraciclo, está trabalhando junto ao Contran e a outras instituições do governo para tentar resolver isso”, revela. É um trabalho árduo, que não promete resultados positivos a curto prazo. Mas nós, motociclistas ou motoqueiros profissionais, podemos ir fazendo a nossa parte.

Marcelo Bartholomei ([email protected])