A indústria automobilística brasileira experimentou um crescimento vertiginoso nos últimos anos (com exceção de 2014 e 2015, que tiveram queda de vendas). Graças ao crédito acessível e os incentivos governamentais, como cortes em impostos, uma grande parcela da população conseguiu realizar o sonho do carro próprio.

Segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), no período áureo de vendas, nos idos de 2013, as montadoras despejavam 14 mil carros diariamente nas ruas brasileiras. Em 2015, apesar de enfrentarmos uma crise e a queda de vendas, ainda entram em circulação mais de dez mil unidades por dia, um número respeitável e ao mesmo tempo assustador.

Apesar do País ainda ter margem de crescimento, observado o número per capita de carros por habitante, no qual o Brasil está atrás de países como México e Argentina, devemos nos atentar para o impacto gerado por esta expansão.

As metrópoles brasileiras apresentam um trânsito caótico e cidades interioranas também já padecem deste problema, devido ao aumento significativo da frota. Não é incomum cidades pequenas e médias apresentarem congestionamentos e dificuldades de locomoção em horários de pico. O governo se preocupou em favorecer o acesso ao carro, mas não parece ter se antecipado aos problemas que isso iria gerar, ou seja, faltou um planejamento para absorver o aumento da frota.

E notório que o trânsito nas cidades brasileiras apresenta sinais de cansaço, cito o caso de Londrina, uma importante cidade do interior do Paraná, a qual tem uma população em torno dos 500 mil habitantes e uma frota que atingiu 350 mil veículos, um índice de primeiro mundo, mas com uma malha viária insuficiente.

Após as capitais serem abarrotadas por carros novos, o fenômeno migra para o interior, tanto que as próprias montadoras apostam nesse movimento, mas a pergunta que fazemos é se as cidades suportaram o aumento repentino e sem planejamento, haja vista que muitas delas nem departamento de trânsito possuem.

Ninguém é hipócrita em dizer que o brasileiro não deve adquirir um carro, muito pelo contrário, o carro é um bem social e necessário, mas devemos repensar seu uso. O que o governo deve incentivar é o uso do transporte público com qualidade; pessoas devem ter seus carros, sim, mas também precisam se sentir confortáveis a ponto de deixar o mesmo em casa e se deslocar usando o transporte coletivo.

O uso racional seria pensar sobre a necessidade de percorrer distâncias curtas usando o carro e transportar apenas um indivíduo onde caberiam pelo menos cinco.

Da mesma forma que a indústria automobilística aposta no interior do País para crescer, o governo ou as próprias montadoras deveriam pregar o consumo racional, implementando práticas sustentáveis, como usar o máximo da capacidade do carro, levando a toda família, vizinhos, pessoas que fazem o mesmo trajeto. E pensar se realmente é preciso retirar o carro da garagem.

Devemos pensar hoje se queremos cidades do interior batendo recordes em qualidade de vida ou na quilometragem dos congestionamentos.

Adriano Eduardo Santiago
Universidade Estadual de Londrina – 4º semestre