– Legislação branda e chamada atenuante para o conserto põem o usuário em risco

– Defeitos são agravados por causa de custo de produção e da concorrência, diz consultor

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Nunca houve tanto problema de segurança nos carros fabricados no Brasil. O número de recall revela: só até maio deste ano foram detectados problemas de segurança em mais de um milhão de carros. Pior é quando um recall é anunciado e a montadora não pode fazer o reparo, caso da convocação que a Honda fez nesta semana aos donos de Fit, City, Civic e CRV para trocar o insuflador do airbag do motorista, mas que deve acontecer só em novembro (veja matéria).

Nos EUA e na Europa o número de recolhimentos é ainda maior, não porque os carros estrangeiros têm mais problemas, mas porque a legislação brasileira é mais branda. Aqui, as montadoras são obrigadas a consertar o carro se o problema for de segurança, enquanto nos Estados Unidos e na Europa qualquer problema é objeto de revisão, até um erro no manual do proprietário pode provocar recall.

O engenheiro Hélio de Fonseca Cardoso, especialista em avaliações e perícias de veículos, critica o critério da lei brasileira, que desconsidera defeitos no carro (para efeito de recall) que não seja diretamente de segurança.

“No Brasil, um defeito no motor não é considerado problema de segurança”, disse Hélio. Mais do que isso, ele considera a chamada para conserto muito atenuante.

Acha que os anúncios de recall da TV, nos jornais, que são obrigatórios por lei, deveriam ser mais incisivos, deveriam indicar a urgência, a premência do conserto.

Ele denuncia que os anúncios não relevam o problema. De fato, é comum a gente ouvir os comunicados das montadoras que chamam seus carros para o recall de uma forma muito branda:

“Em alguns casos, pode haver problema…

“Em situação extrema, aumenta a probabilidade de problemas…

“Pode ocorrer um acidente, e, em consequência, provocar, eventuais perigos aos ocupantes.

Para o engenheiro, a montadora deveria ser mais objetiva, anunciar claramente o risco que o carro está correndo em consequência do defeito. Ele explica que o número de recalls é cada vez maior por causa da displicência dos fabricantes.

“Os defeitos são agravados por causa dos problemas de custo de produção, pela disputa acirrada no mercado. As fábricas antecipam lançamentos, reduzem o tempo de projeto e o resultado é ma perda da qualidade”

Segundo ele, a pressa do lançamento leva algumas fábricas a displicência também em relação aos fornecedores. Um problema lá no início do fornecimento pode levar a um defeito no produto final.

Os números revelam a dimensão do problema. Em 2009 o Brasil fez 45 recalls, em 2014 foram 96 e neste ano foram 51 até maio. O número de carros envolvidos também tem crescido assustadoramente. Em 2012, 400 mil carros foram chamados para fazer algum tipo de reparo em itens de segurança. No ano passado foram 1,517 milhão. E até maio deste ano foram 1,065 milhão.

Freios, sistemas eletrônicos, sistema de combustível e airbag são, nesta ordem, os itens mais afetados pelo recall, segundo o Procon. Outros defeitos são ignorados

Diante disso, quando você receber um comunicado sobre a “possibilidade”, de um “eventual” problema, que ”em casos excepcionais” “poderia”, atingir a sua segurança, vai correndo para a concessionária, meu amigo. Você pode estar correndo perigo de vida.

Confira o histórico de recalls no Brasil nos últimos anos:

Ano Nº de Recalls Unidades atingidas
2012 54 397.000
2013 73 675.000
2014 96 1.517.000
2015 51 1.065.000
Os dados de 2015 são de janeiro a junho