Distorção dos preços deve durar até a normalização da produção

É possível um caminhão com três anos de uso custar mais caro do que o mesmo modelo zero quilômetro? Isso parece uma heresia no chamado livre mercado, onde o que define os preços dos produtos é a lei da oferta e procura.

Mas é uma realidade no Brasil de 2021, onde a pandemia provocou a redução da produção e a maior distorção de preço que se tenha notícia.

O especialista Valder Papa, da Consult Motors, chama a flutuação dos preços de Efeito Espelho, quando o comportamento do mercado de OK reflete no de usados. “Toda vez que há um incremento de preço nos caminhões novos o efeito no mercado de usados é imediato”, diz.

Ele lembra que nos últimos seis meses o aumento do preço do caminhão zero quilômetro foi expressivo:

“De janeiro para cá os preços tiveram um aumento brutal, afetando diretamente os preços dos seminovos. Essa situação se agravou ainda mais com a redução da produção por falta de componentes, o que tem causado o desabastecimento do mercado”.

Segundo consultor, esse fenômeno faz com que os preços, principalmente nos seminovos, aumentem além da conta. O resultado é a tremenda distorção nos preços, detectada pelo Estudo de Depreciação de Veículos de 2021, base do Selo Maior Valor de Revenda Veículos Comerciais.

O Estudo de Depreciação é realizado pela Autoinforme desde 2001 e pela primeira vez nesses vinte anos os preços de alguns dos caminhões e utilitários de carga comprados em 2018 são maiores do que o preço de tabela do mesmo modelo zero quilômetro.

Valdner Papa lembra que se trata de uma situação excepcional e que deve ser normalizada logo que a produção se estabilizar, o que ele prevê para o primeiro semestre do ano que vem.

“Esses preços não se sustentam – disse – acredito que a partir de janeiro de 2022, quando a produção começar a se normalizar, os valores voltem ao normal. Portanto, não recomendo a compra de um modelo seminovo hoje”.

Fenômeno parecido ocorreu no final dos anos 1980, durante o governo Sarney, quando os preços dos usados eram maiores do que a tabela do OK. Na época, as concessionárias desviavam o modelo zero quilômetro para o mercado paralelo, onde vendiam a preços abusivos. O ágio não está sendo aplicado agora, segundo Valder Papa, por duas razões: a rede retomou a operação com 100% da sua margem de lucro e o consumidor tem maior conhecimento doas preços.

“As margem de lucro das concessionárias, que estava em 4% ou 4,5%, voltaram aos 10% tradicionais, e o consumidor, hoje, tem pleno conhecimento dos preços: com um clique na internet ele sabe exatamente o preço de tabela de cada modelo e faz uma pesquisa completa em minutos”.

Lembrou ainda que os frotistas têm grande poder de barganha e sabem que em pouco tempo o mercado vai se normalizar e os preços vão retomar ao patamar de antes da pandemia.

O evento (online) da entrega do Selo Maior Valor de Revenda 2021 será no próximo dia 30 de julho, transmitido da sede da Braspress, em São Paulo, às 11h.