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Dez anos atrás, sete de cada dez carros usados vendidos no Brasil tinham pelo menos uma parte financiada. O crédito era mais fácil, a maioria dos pedidos era aprovada pelas financeiras.

A situação mudou de tal modo que hoje apenas três em cada dez pedidos de financiamento são aprovados, o que está levando a uma queda de vendas expressiva no segmento de seminovos, carros com até três anos de uso.

”Dos 135 milhões de potenciais consumidores brasileiros, 63 milhões estão negativados, o que reduz drasticamente o poder de compra”, revelou à nossa reportagem o presidente da Fenauto, federação que reúne as lojas de carros usados de todo o Brasil, Ilídio dos Santos.

Ele disse que apenas 35% das vendas de carros usados são financiadas atualmente, outros 11% das vendas são feitas pelo consórcio e o restante é à vista, tendo como parte de pagamento o carro mais velho dado como entrada.

Nos dois últimos anos o carro seminovo era o segmento que mais crescia, com muita gente substituindo o zero pelo modelo com até três anos de uso. Mas neste ano, as montadoras empreenderam uma operação agressiva, segundo Ilídio, oferecendo facilidades da compra, com pequena entrada e financiamento a longo prazo com juros abaixo da média e aceitando o carro mais velho na troca pelo valor da tabela.

A ação do mercado de OK fez aumentar as vendas, que registram crescimento de 14,1% de janeiro a agosto, mas as consequências para o segmento de seminovos foram desastrosas. Enquanto o mercado de usados como um todo permanece estável no ano, com variação residual de +0,4% (veja quadro), as vendas de seminovos despencaram 56%. Todos os demais segmentos cresceram: os modelos com quatro a oito anos subiram 38,3%, de nove a 12 anos + 79,7% e os velhinhos, com mais de 14 anos, tiveram aumento de 33,1%.

Segundo o consultor Valdner Papa, o mercado de seminovo está diretamente ligado ao mercado de OK e é afetado diretamente por ele. Foi isso que ocorreu este ano, quando as montadoras voltaram a atuar no segmento de entrada, mas com carros de maior valor agregado e com preços superiores, modelos entre R$ 45 mil e R$ 50 mil.

“As montadoras criaram uma nova faixa de carros de entrada, lançando versões mais baratas, mas com alta tecnologia e com isso reduziram a diferença de preço entre o zero e o seminovo, levando o cliente a migrar para o OK”. Ele explicou que isso sempre acontece quando há um distanciamento entre o zero e o seminovo e observou que o fenômeno, no entanto, não afeta os demais segmentos do mercado, conforme é possível perceber na tabela.

As mudanças no mix de produtos das montadoras, com lançamentos de novas versões e reposicionamento de preço, também interferem no valor de venda do carro usado.

O mercado funciona como uma gangorra: quando o preço do zero sobe e se distancia do usado, o cliente recorre ao mercado de seminovos; quando o preço do zero cai, ou as montadoras passam a oferecer facilidade da aquisição do bem, o cliente é atraído para o mercado de novos e abandona os seminovos, como está acontecendo neste momento.

Outro aspecto que garante um bom valor de revenda é a montadora oferecer versões completas, sem a opção de colocar equipamentos.

Antigamente tudo era opcional, o consumidor tinha que pagar a mais por um vidro elétrico, um ar condicionado, um sistema de som. Hoje a maioria das marcas trabalha com carros completos, ou pelo menos mais equipados. Essa estratégia, além de tornar o preço do produto mais transparente, ajuda a manter o valor do carro no mercado de usado, de forma a garantir ao seu proprietário menor depreciação na hora da revenda.

Quando a pessoa coloca um equipamento fora de linha, um acessório, esse investimento não terá retorno na hora da revenda. O investimento feito nos opcionais na compra do zero não terá retorno na revenda.

Evolução das vendas de usados
Janeiro-agosto/2018

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