– Uso de biomateriais reduz peso, consumo e emissões e diminui o impacto ambiental da produção de veículos

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Soja, coco, cana-de-açúcar, milho, algas. Esse material está presente em fábricas de automóveis. Na cozinha industrial? Não, no processo produtivo e muitos deles podem estar no carro que você está dirigindo.

O material orgânico faz parte de veículos produzidos e vendidos no Brasil, embora ainda represente uma participação ínfima se comparado com os materiais inorgânicos.

Além desse coquetel de frutas, grãos e leguminosas, outros produtos agrícolas equipam veículos automotores, como casca de arroz, palha de trigo, sisal, fibra de curauá, bambu e a Ford pesquisa em parceria com a Heinz, fabricante de catchup, o uso da fibra de tomate para o desenvolvimento de um material alternativo ao plástico para a produção de suportes de fiação e porta-objetos.

A indústria descobriu que muitos dos chamados biomateriais são mais leves e mais resistentes e portanto substituem com mais eficiência alguns materiais sintéticos.

Os biomaterias contribuem para o meio ambiente na redução do peso do veículo, proporcionando melhor relação peso-potência, o que provoca a redução de consumo de combustível e consequentemente a redução de emissões. Por outro lado, substituem materiais não renováveis, derivados do petróleo e minerais.

Muitos carros fabricados no Brasil têm em sua composição uma parte de materiais orgânicos, principalmente casca de coco e sisal.

O painel de instrumentos do caminhão Cargo é feito com um composto de fibra de sisal e o sedã Focus tem materiais orgânicos em sua composição. Nos EUA todos os carros da Ford têm espuma de soja nos bancos. Os modelos Escape, Focus Electric e Flex usam fibra de madeira e palha de trigo.

Trata-se de uma tendência mundial e embora ainda represente uma pequena parte, o uso de biomateriais no carro traz benefícios amplamente reconhecidos pelas empresas e pela comunidade ambiental.

O analista de controle ambiental da Renault do Brasil, Rafael Mattos, informa que vários carros da marca utilizam material orgânico, sendo que, na média, 2,4% dos materiais usados na fabricação dos veículos produzidos na fábrica de São José dos Pinhais são fibras naturais.

A maior parte das aplicações de fibras naturais nos carros é em peças de pouca importância em relação à segurança e ao funcionamento do veículo, mas são úteis no que se refere a proteção do meio ambiente, uma vez que substituem materiais de natureza finita, isto é, que não podem ser reproduzidos. Além disso, mesmo pequenas aplicações, como a feita nos modelos i30 e Elantra, contribuem para a redução do peso final do veículo.

Importados da Coréia pela Caoa, o utilitário esportivo e o sedã possuem uma placa de fibra natural na parte traseira do banco traseiro, feita de kenaf (Hibiscus Cannabinus), popularmente conhecido no Brasil como papoula de são francisco ou cânhamo brasileiro.

O tampão do porta malas dos modelos Fit, City e HRV, fabricados pela Honda em Sumaré, é produzido a partir de uma mistura de fibras naturais com resinas de polipropileno. No caso do Fit e do HRV, as fibras são de madeira; no caso do City, de algodão. A Honda planeja ampliar a participação de fibras naturais nos seus carros. Técnicos da montadora estudam o uso de juta, coco, cana de açúcar, bambu e outros itens termoformados (conformadas a quente), com o objetivo de gerar redução de peso e de emissões de CO2.

Outra aplicação de material orgânico feita pela Honda é na produção do kit de bordo, composto pelo manual do proprietário, manual de manutenção, livreto de garantia e a relação da rede de concessionárias, além do boletim de segurança no trânsito e assistência 24 horas. As capas dos livretos, que antes de 2008 eram feitas de plástico, agora são produzidas totalmente de algodão natural. Até a cor natural é mantida para evitar o uso de corantes químicos.

A Fiat já tem uma longa história de uso de materiais orgânicos nos carros produzidos em Betim, alguns deles agora usados também no Renegade, produzido pela Jeep em Goiana, em Pernambuco, unidade do grupo FCA.       O acabamento do painel do Uno e das portas do Renegade é feito de uma mistura de fibra de juta e polipropileno, que tem o nome comercial Ecomold.

A espuma dos bancos de todos os carros da Fiat é composta de uma mistura de 5% derivada de óleo de soja. Os painéis das portas e do porta-pacotes e a tampa do porta-malas do novo Uno e do Palio, são feitos com uma mistura cuja composição contém um material chamado Woodstock, que é madeira triturada com polipropileno; a FCA usa ainda algodão na tapeçaria.

Uma das primeiras fibras a serem usadas em carros feitos no Brasil foi o curauá (Ananas erectifolius), cujas folhas secas alimentam também a indústria de vestuário e de medicamentos.

Originária da Amazônia, da família do abacaxi, o curauá se diferencia de outras plantas por ter uma fibra macia, com grande resistência mecânica e capacidade de suportar tensões elevadas, o que lhe garantiu um uso nobre, na substituição da fibra de vidro. Originalmente a fibra era usada por índios na fabricação de corda, rede de dormir e linha de pesca, produtos que atestam as qualidades de resistência e de leveza.

A Volkswagen foi uma das pioneiras no uso do curauá, planta que era produzida especialmente para a montadora numa comunidade agrícola no interior do Pará. O Fox e o Polo usam o material no teto, na parte interna das portas e na tampa do compartimento de bagagens.

O investimento em pesquisa de materiais orgânicos para o uso da produção de veículos já foi maior, tempo em que o barril de petróleo beirava os US$ 100,00. Hoje, a menos de US$ 40,00, o óleo barato desestimula a procura por alternativas naturais, por causa do alto custo das pesquisas e da produção. Mas a experiência mostra que há caminhos sólidos a seguir quando a humanidade tiver que recorrer definitivamente a opções mais comprometidas com o meio ambiente.