Nivus e a picape Tarek estão garantidos, mas novos projetos estão congelados

A Volkswagen vai manter o investimento previsto para este ano, quando se encerra um ciclo de lançamentos da empresa, incluindo o Nivus, um utilitário esportivo maior do que o T-Cross e menor do que o Tiguan, que será lançado em junho, e também da picape Tarek, do tamanho e porte da Fiat Toro, cujo lançamento está previsto para o fim do ano.

A maior parte do investimento foi feita antes do início da pandemia do coronavírus e uma pequena parcela será gasta nos próximos três meses, para manter o quadro de funcionários, com as atividades suspensas por causa da paralisação da produção.

Mas o capital previsto para o novo ciclo de investimento no Brasil foi congelado, conforme revelou o presidente da empresa, Pablo Di Si, em entrevista a Luiz Cipolli Junior, nesta quinta-feira (23/4/20).

O congelamento não tem prazo nem data, as mudanças dos planos vão depender da recuperação do mercado com a retomada total da produção e o fim da crise.

“Vamos precisar de três a quatro meses para equilibrar as contas, depois da retomada”, acha Di Si, revelando que o congelamento dos investimentos não está circunscrito ao Brasil ou a América Latina, mas ao mundo todo.

Ele se mostrou pessimista em relação à recuperação das vendas internas, acha que o nível de emprego vai cair e que a esperança é uma política agressiva de financiamento. Destacou também que o mercado deve sofrer mudanças no mix de venda, com a tendência de uma procura maior por carros básicos, modelos de entrada, em detrimento dos segmentos superiores.

Outras mudanças no comportamento do mercado previstas pelo presidente da Volkswagen é o fim das grandes concessionárias, com amplas oficinas e showrooms gigantescos. Ele acha que a tendência é a proliferação das concessionárias virtuais e unidades de pequeno porte, com estoque baixo, um sistema que já vinha sendo experimentado por algumas redes de marcas e que deve se amplificar após a crise.

Não fez ma previsão para 2020, mas indicou que o mercado não terá o mesmo desempenho que em 2019 e que o crescimento em 2021 vai depender da confiança do consumidor, do nível de emprego e das linhas de crédito à disposição do consumidor.

Prevendo também um aumento significativo da inadimplência no segundo semestre como consequência da descapitalização das pessoas, Di Si disse que a indústria automobilística está buscando financiamento do BNDES e de bancos privados, com juros baixos, com o objetivo de manter o nível de emprego.

Lembrou que o dólar alto vai aumentar o custo de produção do carro, que tem grande parte das peças importadas, especialmente os itens eletrônicos. Esse aumento de custo será repassado para o consumidor, pelo menos em parte. O dirigente avalia que é preciso trabalhar para nacionalizar mais peças para a produção nacional, pois o efeito do dólar no preço final do carro feito no Brasil é grande.

As três fábricas da Volkswagen no Brasil estão prontas para receber a retomada de produção, preparadas com sistema de sinalização e controle do coronavírus, com organização de áreas de convívio compatíveis com as normas de segurança estabelecidas pelas autoridades de saúde.

O presidente destacou que a produção nas três fábricas será retomada por demanda, ou seja, para atender os pedidos e não para fazer estoque, a partir do dia 18 de maio, mas essa data poderá ser adiada dependendo da política de afrouxamento determinada pelo governador João Dória.

A fábrica da Anchieta vai trabalhar com apenas um turno (trabalhava com três), portanto a produção será de 30% do potencial; São Jose dos Pinhais terá apenas um turno, contra dois antes da crise, e a unidade São Carlos, onde se produz motores, terá também apenas um turno reativado para atender a exportação para Alemanha e o México.

A fábrica de Córdoba, na Argentina, volta a produzir dia 27 de abril e as unidades brasileiras devem recomeças a produção dia 10 de maio, isso se não houver novo adiamento.